Vita Contemplativa
Colóquio
Mãe Natureza - Terra Viva
14 e 15 de Maio de 2018
Anfiteatro III - Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Apresentação
Estamos em pleno Antropoceno, uma idade da Terra marcada pelo inédito impacto das acções humanas na destruição crescente da Natureza e da biodiversidade, nas alterações climáticas e no esgotamento e contaminação dos recursos naturais. Um relatório recente, publicado na revista BioScience e assinado por 15 000 cientistas de 184 países, alerta para o facto de estarmos a ultrapassar todos os sinais vermelhos e de em breve ser "demasiado tarde para reverter esta tendência", pois "a humanidade não está a fazer o que deve ser feito urgentemente para salvaguardar a biosfera ameaçada".
Constata-se assim que a abordagem predominante da crise ambiental - com base na filosofia teórica, nas ciências do ambiente, na ética ambiental antropocêntrica, na política, na economia e num activismo meramente reactivo - não tem tido, pesem todos os seus imensos contributos positivos, o efeito necessário, seja nos centros de decisão, seja na consciência das populações. Não parece, na verdade, que estas abordagens tenham apontado o fundo da questão, que porventura se prende com uma percepção fundamentalmente errada da natureza da realidade, em que o ser humano se vê como separado dos demais seres vivos e do fundo comum que designa como Terra, Mundo, Vida ou Natureza. A crise ambiental é reflexo da crise multidimensional da contemporaneidade e pode efectivamente ter a sua origem radical numa crise de percepção da interdependência e relação profunda que existe entre tudo e todos, numa distorção ou obscurecimento da consciência, não reconhecida por muito do ambientalismo ou ecologismo superficial
Perante isto, cabe investigar o que têm a espiritualidade, as religiões, as tradições contemplativas e religiosas, a ciência holística e a experiência contemplativa e estético-artística, independentemente de qualquer filiação espiritual ou religiosa, a dizer sobre a realidade profunda do que se designa como Natureza e Terra e sobre o sentido da nossa relação com elas. Importa aprender com as tradições e os seres humanos que percepcionam a Natureza como sagrada, como manifestação divina ou Realidade última , importa aprender com as tradições e os seres humanos que, mais do que pretenderem conhecer ou servir-se da Terra, a experienciam como aparição e epifania, no regime do maravilhamento e espanto contemplativos e celebrativos e não na perspectiva fragmentada no da vontade filosófico-conceptual ou científico-tecnológica. Importa aprender com outras matrizes culturais, que vivem em harmonia com a Natureza e que estão menos contaminadas pelo dualismo sujeito-objecto em vigor no regime de consciência dominante na cultura europeia-ocidental hoje globalizada. É o que se propõem a ecologia espiritual, a ecosofia e a ecologia profunda, por contraste com abordagens mais convencionais e superficiais, que como é natural não estão a fazer parte da solução.
É esse o objectivo do presente Colóquio, que convida investigadores, artistas e amantes da Natureza e da Terra, de várias formações, a darem conta de outras formas de as experienciar e de assim mostrarem vias alternativas quer ao Antropoceno, quer aos seus impotentes paliativos no ambientalismo convencional.